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Simone Fernandes: Desafios para a alimentação e agricultura mundiais

A percepção sobre os desafios para a alimentação e agricultura mundiais, dentro e fora do sector.

Esta semana falámos com a nutricionista Simone Fernandes. Licenciada em Dietética, pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, e mestre em Saúde Pública pela Universidade Nova de Lisboa, Simone orienta diariamente quem procura as suas consultas na Clínica da Luz, ou com quem se cruza nas diversas iniciativas de alimentação e nutrição no âmbito do Movimento 2020, do qual é uma das caras.

1. Na sua perspectiva, qual a importância que a agricultura tem na alimentação mundial?
A agricultura representa um dos maiores pilares para a sustentabilidade alimentar ao nível mundial, não só do ponto de vista da garantia de alimentos a toda a população, o colmatar da fome e dos níveis de insegurança alimentar atualmente vividos, como, do próprio ponto de vista nutricional em populações cujo acesso a alimentos é garantido. Isto é, a promoção do consumo de alimentos provenientes da agricultura, como as frutas e os vegetais permitem colmatar uma grande parte das carências nutricionais que atualmente verificamos nas populações mais industrializadas, onde concomitantemente assistimos a situações de obesidade e carências de vitaminas e minerais.

2. Considera que a população está ciente dos desafios da agricultura?
Não. Muito sinceramente penso que grande parte da população não está desperta para as problemáticas que atualmente se verificam ao nível da garantia de alimentos para a toda a população e dos desafios que se colocam aos agricultores/ à agricultura de hoje em dia.

3. Na sua perspectiva, quais os maiores mitos existentes, por parte do consumidor, sobre a agricultura moderna?
Sinceramente, penso que é muito recorrente no pensamento dos consumidores que as práticas agrícolas atuais podem ter efeitos prejudiciais na saúde.

4. Quais são, na sua visão, os desafios ao sector agrícola para os próximos anos?
Um dos grandes desafios passará por desmistificar perante os consumidores que as práticas agrícolas atuais não têm impactos negativos na saúde, para que assim se possa atuar na produção de alimentos de forma mais sustentável. Também do ponto de vista do consumidor devemos educar para as más práticas de utilização de recursos que poderão colocar em causa a produção agrícola com vista a suprir a necessidades de uma população crescente. Aliadas a estas preocupações temos também fenómenos como as alterações climáticas que colocam em causa anualmente inúmeras colheitas ao nível mundial, bem como, um mercado global no qual a proliferação de novas pestes também é um problema que carecerá de soluções.

5. Que medidas considera que deveriam ser tomadas pelo sector agrícola para aproximar o consumidor da agricultura moderna?
– Campanhas de sensibilização que desmistifiquem os efeitos prejudiciais da agricultura moderna na saúde humana;
– Campanhas de sensibilização junto da comunicação social que alertem o consumidor para a atual problemática da escassez de recursos agrícolas que poderão colocar em causa a garantia de alimentação para a toda a população mundial num futuro muito próximo;
– Parcerias com entidades/profissionais que desenvolvam as suas práticas na educação do consumidor ou que com este tenham uma maior relação de proximidade. São exemplos os profissionais da área da nutrição que diariamente aconselham o consumidor na escolha de alimentos, ou os professores que na escola promovem a educação da população mais jovem. Trabalhar os diversos conceitos da agricultura moderna com as diversas faixas etárias de consumidores é essencial para modificar o panorama atual de desconfiança e desmitificar.