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29 de Março, 2024
Fito-Entrevista

InnovPlantProtect | Soluções inspiradas na Natureza para proteção das culturas

As investigadoras do InPP procuram identificar na planta do trigo alelos de resistência à ferrugem amarela. Na foto, Diana Acácio e Asmae Jlilat num campo de trigo em Sousel.

Qual é a missão do laboratório colaborativo InnovPlantProtect?

A principal missão do InnovPlantProtect (InPP) é desenvolver produtos bio inspirados, ou seja, novas tecnologias baseadas em microrganismos, extratos de plantas, organismos marinhos, entre outros, para controlar pragas e doenças emergentes em culturas mediterrânicas.

Que meios humanos e materiais tem o InPP para levar a cabo a sua missão?

Os nossos investigadores são altamente qualificados – 16 doutorados, 17 mestres e cinco licenciados – e agora têm ao dispor cinco novos laboratórios (nas áreas da bioquímica, biologia molecular, química orgânica e inorgânica e um laboratório digital), instalados na antiga Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, atual INIAV, em Elvas. O nosso trabalho é financiado por verbas do Fundo Social Europeu, da Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelos nossos associados e também por prestação de serviços que realizamos.

Que tipo de serviços presta o InPP e a quem?

A partir do conhecimento científico disponível criamos soluções sustentáveis para problemas fitossanitários que a produção nos apresenta. Por exemplo, a Fertiprado é um dos nossos fundadores e clientes e também temos um contrato de consultadoria com uma empresa produtora de morango.

O InPP selecionou quatro pragas e doenças – ferrugem amarela (no trigo), Xylella fastidiosa (na oliveira), estenfiliose (na pera Rocha) e piriculariose (no arroz) – como alvo de estudo. Que soluções pretendem encontrar para cada uma delas?

No caso da Xylella fastidiosa a nossa estratégia passa por identificar e utilizar microrganismos que habitam no interior das oliveiras e das amendoeiras, conferindo-lhes capacidade para controlar o crescimento daquela bactéria, impedindo que esta se multiplique nos vasos condutores das plantas. Para controlar a estenfiliose e a piriculariose, doenças que atuam à superfície das plantas, estamos a identificar e a desenvolver soluções a partir de agentes de controlo biológico provenientes de diferentes ecossistemas, podem ser microrganismos, extratos de plantas ou de organismos marinhos.

Duas associadas da ANIPLA – Bayer e Syngenta – são sócias fundadoras do InnovPlantProtect

No caso do trigo, a nossa ambição é identificar na própria planta alelos de resistência à ferrugem amarela, em concreto à raça mais agressiva que existe em Portugal, e através de técnicas de cisgénese ou de edição genética introduzi-los em novas variedades de trigo, tornando-as resistentes a esta doença. Para acelerar o desenvolvimento destas linhas de trabalho concorremos a diversas fontes de financiamento concorrenciais nacionais e europeias e, em particular, participamos em consórcios que se apresentaram ao concurso de ideias de projetos mobilizadores do Plano de Recuperação e Resiliência.

Essas técnicas de edição do genoma são os clássicos OGM?

Não. As técnicas de edição do genoma com as quais trabalhamos não implicam a introdução de qualquer sequência codificante estranha nas plantas, trata-se de manipular o genoma da própria espécie.

Também estão a trabalhar em modelos de risco e de previsão de disseminação de pragas e doenças. Em que culturas?

Estamos a desenvolver um sistema de monitorização precoce da morte súbita dos sobreiros e das azinheiras, em colaboração com investigadores espanhóis. O principal agente causal desta doença é a Phytophthora cinnamomi, um organismo do grupo dos oomicetos que se aloja nos vasos condutores das árvores e bloqueia o acesso da planta aos nutrientes e à água. Usamos diversas ‘camadas’ de informação sobre o estado vegetativo das árvores – imagens obtidas por drones, dados de observação visual e imagens de satélite – e sobre a doença, para criar um modelo robusto de previsão e análise do risco da incidência. Queremos perceber, por exemplo, se a doença está associada ao declive do terreno e ao tipo de solo.

«Estamos a desenvolver um sistema de monitorização precoce da morte súbita dos sobreiros e das azinheiras»

Pedro Fevereiro, Diretor Executivo do InnovPlantProtect

A ambição do InPP é criar plantas resistentes a pragas e doenças. Em que espécies estão a trabalhar?

Nesta fase ainda não estamos a investir muito nessa área, em parte, porque a regulamentação europeia proíbe o uso das técnicas de edição do genoma. No entanto, estas técnicas podem ser aplicadas tanto em espécies de plantas herbáceas como lenhosas. Vejamos o exemplo da pera Rocha, que é afetada por três doenças-chave – a estenfiliose, o fogo bacteriano e a podridão radicular (Rosellinia necatrix) -, neste caso poderemos vir a identificar, na planta, os genes que facilitam o processo de desenvolvimento dos organismos patogénicos nas pereiras, mutar esses genes e com isso reduzir drasticamente a incidência das doenças.

Um estudo recente, pedido pela Comissão Europeia, avaliou o impacto das técnicas de edição do genoma na agricultura europeia. A que conclusões chegou este estudo?

O relatório divulgado parece sugerir que os impactos do uso da edição do genoma na agricultura europeia seriam positivos. Entretanto, a Comissão Europeia pediu pareceres sobre o estudo e ao que se sabe ainda não se pronunciou. Já o Reino Unido fez saber que vai alterar a legislação sobre uso de organismos geneticamente modificados, o que pode condicionar a decisão da UE, mas ainda é cedo para perceber como é que a UE se vai posicionar e gerir esta questão.

Quais são as vantagens das novas técnicas de edição do genoma face à engenharia genética convencional?

As novas técnicas de edição do genoma permitem introduzir as características desejadas nas plantas e nos animais de forma muito mais rápida (5 a 6 anos a menos), precisa e barata do que engenharia genética convencional. Caso a regulamentação europeia sobre OGM seja alterada, tornando-se menos exigente, instituições públicas, universidades e PMEs, terão oportunidade de entrar neste mercado. No InPP é essa a nossa expectativa. Em termos de prova de conceito já existem dados suficientes que provam que a edição do genoma permite obter plantas resistentes a fungos, insetos, bactérias, vírus e à salinidade e também podem ser utilizadas para melhorar as características organoléticas dos alimentos ou para reduzir níveis anti nutricionais.

«As novas técnicas de edição do genoma são mais rápidas, precisas e baratas do que a engenharia genética convencional»

Os cientistas do InPP estudam microrganismos que habitam no interior das oliveiras para bloquear a atividade da Xylella fastidiosa. Esta bactéria é responsável pela morte de milhares de oliveiras em Itália e já foi identificada em Portugal.

Já existem no mercado alimentos obtidos com as novas técnicas de edição do genoma?

A edição do genoma, com base na técnica CRISPR-Cas9, é aplicada há cerca de cinco anos. O CRISPR-Cas9 veio revolucionar a edição genética, porque é uma ferramenta fácil e barata de produzir. Nos EUA, já permitiu criar cogumelos que não oxidam e na UE provou-se que é possível obter batatas resistentes à fitóftora (Phytophthora infestans) ou arroz resistente à piriculariose através da edição do genoma. Estes são apenas alguns dos exemplos do potencial da edição do genoma.

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