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18 de Abril, 2024
Fito-Entrevista

Separados na atividade, unânimes na preocupação para com o futuro da atividade agrícola

Paulo Godinho, 22 anos, Estudante Universitário de jornalismo

A visão sobre os desafios à produção agrícola na atualidade, tomando como ponto de partida o estudo que a ANIPLA realizou em parceria com a Universidade Católica. Na semana passada escutámos o produtor agrícola José Palha [recorde aqui a entrevista], esta semana conversamos com o estudante universitário, Paulo Godinho.

O Centro de Estudos Aplicados (CEA) da Universidade Católica Portuguesa, em parceria com a ANIPLA, realizou um estudo à população portuguesa adulta para aferir o seu conhecimento quanto às realidades da produção agrícola. Uma das conclusões indica que 93% dos inquiridos não sabe que a produção alimentar global precisa de aumentar 60% até 2050.

Os resultados demonstram a necessidade de aumentar o diálogo entre o sector agrícola e a população, para aumentar a cooperação e gerar maior conhecimento público para um tema de tanto impacto na sociedade.

1. Na sua opinião os consumidores têm consciência de que para alimentar toda a população mundial será preciso aumentar a produção de alimentos em 60% até 2050?

De todo. A população é mais sensível à satisfação das necessidades imediatas e pouco se preocupa com “o dia de amanhã”. Mas mais do que essa insensibilidade com o futuro, a falta de divulgação destes dados é que contribui muito para o desconhecimento generalizado da nossa sociedade. São dados assustadores e deviam influenciar as opções de consumo e os hábitos de todos nós. Não consigo perceber como é que números tão alarmantes como esse não fazem parte das nossas preocupações diárias.

2. Considera que há um distanciamento entre o setor agrícola e os consumidores? O que poderia contribuir para uma maior proximidade e informação?

Sim e acho que esse distanciamento se nota mais nas camadas jovens. A agricultura é vista como uma atividade pouco interessante e mal remunerada. Por isso, deviam ser tomadas iniciativas de sensibilização que demonstrassem não só a importância da agricultura, mas, acima de tudo, a evolução tecnológica que esta sofreu. Hoje em dia, esta atividade já não se pode associar exclusivamente à figura do homem rural, cansado, de enxada na mão, nem às camadas da população menos instruídas. Informar é a palavra de ordem, neste caso. Dentro do grande tema da agricultura há tantos temas que podiam ser de interesse geral, mas que, infelizmente, não são explorados. Temos de alterar a “pequenez” da nossa mentalidade e começar a olhar para esta atividade de uma maneira mais séria. Mas claro, aproximar o cidadão destas matérias tem de ser o primeiro passo a dar.

3. A falta de produção de alimentos e o aumento do seu custo causados pelos efeitos das alterações climáticas (ex: seca, inundações, aumento da temperatura, etc.) preocupam-no?

Claro. Não só ao nível da escassez de recursos para consumo, mas também das condições disponíveis para as gerações vindouras. Mas a verdade é que quando se fala em alterações climáticas, não se pensa imediatamente nos seus efeitos na produção de alimentos e muito menos no impacto que estas podem ter nos seus custos. É preciso divulgar dados científicos que provem essa relação (+ seca/inundações/aumento da temperatura = + falta de alimentos = + custo) e consciencializar as pessoas para as mudanças que devem tomar no seu quotidiano para prevenir esses efeitos tão negativos.

4. Os portugueses revelam preferir alimentos biológicos, mas desconhecem a forma como são produzidos. É preciso melhorar a informação ao consumidor?

Claro que sim. O consumidor deve efetuar as suas compras da forma mais consciente e com o máximo de informação possível, mas sabemos que na realidade as coisas não funcionam assim. As pessoas regem-se mais por modas/tendências do que pelo conhecimento que têm sobre o assunto. A verdade é que pouco se sabe da agricultura biológica e das suas verdadeiras vantagens, ainda assim, toda a gente afirma preferir esse tipo de alimentos. Mais uma vez, é a falta de informação credível que conduz a este tipo de comportamentos. Estamos a consumir de forma inconsciente e sem preocupações futuras e quando nos apercebermos disso, poderá ser tarde de mais, o que me preocupa.

5. Consumir produtos sazonais (da época) ou locais faz parte das preocupações diárias dos consumidores?

O consumidor português gosta de acreditar que o faz, mas se fossemos olhar para estes dados, talvez nos surpreendêssemos. Não acredito que essas façam parte das preocupações dos consumidores por-que a rapidez e a facilidade de acesso aos alimentos é que acaba por determinar as escolhas que eles fazem. Ou seja, se pudermos comprar as maçãs disponíveis o ano inteiro no hipermercado ali da rua, não vamos optar pelo caminho mais difícil de nos deslocarmos a locais de venda de produtos locais, muitas vezes mais caros e que duram menos ou de esperar por determinada altura do ano para consumirmos os alimentos que nos apetecem consumir. O consumidor só quer satisfazer as suas exigências da maneira mais rápida, barata e eficaz possível, sem pensar nas consequências que essa nossa imprudência pode causar.

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