Filipa Viana, Psicóloga
O Futuro da atividade agrícola dentro e fora do setor.
A visão sobre os desafios da produção agrícola na atualidade, tomando como ponto de partida o estudo que a ANIPLA realizou em parceria com a Universidade Católica. Esta semana com Filipa Viana, psicóloga, de 25 anos.
Recorde aqui a entrevista com a Elizete Jardim, Diretora de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo.
O Centro de Estudos Aplicados (CEA) da Universidade Católica Portuguesa, em parceria com a ANIPLA, realizou um estudo à população portuguesa adulta para aferir o seu conhecimento quanto às realidades da produção agrícola. Uma das conclusões indica que 93% dos inquiridos não sabe que a produção alimentar global precisa de aumentar 60% até 2050.
Os resultados demonstram a necessidade de aumentar o diálogo entre o sector agrícola e a população, para aumentar a cooperação e gerar maior conhecimento público para um tema de tanto impacto na sociedade.
1. Na sua opinião os consumidores têm consciência de que para alimentar toda a população mundial será preciso aumentar a produção de alimentos em 60% até 2050?
Na generalidade, diria que não. De uma forma muito imediata, creio que a produção agrícola não é percecionada como um recurso pelos consumidores, e, portanto, como um conjunto de bens limitado e dos quais somos dependentes. Adicionalmente, não me apercebi ainda de uma sensibilização suficientemente significativa para criar impacto sobre esta matéria.
2. Considera que há um distanciamento entre o setor agrícola e os consumidores? O que poderia contribuir para uma maior proximidade e informação?
É o típico distanciamento entre produtor e consumidor final a que estamos habituados e que é causado pelos diferentes intermediários que contribuem simultaneamente para a distribuição dos produtos e para este gap entre o setor agrícola e a população que os consome. Apesar disto, parece-me que toda a sensibilidade crescente para o que é orgânico, biológico, tem vindo a aproximar produtores e clientes. Pena ser apenas dentro deste leque de produtos e não existir da mesma maneira para a generalidade dos produtos. Mais transparência, abertura e presença por parte dos representantes do setor agrícola poderia alterar esta tendência.
3. A falta de produção de alimentos e o aumento do seu custo causados pelos efeitos das alterações climáticas (ex: seca, inundações, aumento da temperatura, etc.) preocupam-na?
Claro. Cada vez mais somos alertados para estas consequências, para além das alterações propriamente ditas. Recordo-me de um artigo que li no Jornal Económico, há pouco tempo atrás, que falava precisamente no impacto das alterações climáticas para a economia mundial, mais concretamente para o setor agrícola e turístico e fiquei muito chocada com os valores dos prejuízos (na ordem dos mil milhões).
4. Os portugueses revelam preferir alimentos biológicos, mas desconhecem a forma como são produzidos. É preciso melhorar a informação ao consumidor?
Sem dúvida. Não sei até que ponto esta preferência se espelha no consumo e na compra de produtos biológicos em detrimento dos produzidos recorrendo ao uso de fitofarmacêuticos. Mas acredito que a segunda opção continue a ser a mais proveitosa para o consumidor, uma vez que existe uma diferença significativa de custos. A perceção geral é a de que o que é biológico é “melhor”, mas será isto verdade? E será essa perceção forte o suficiente para alterar a nossa escolha na hora da compra?
5. Consumir produtos sazonais (da época) ou locais faz parte das preocupações diárias dos consumidores?
Aos produtos sazonais está associada a qualidade, a frescura e a autenticidade do produto, portanto neste caso diria que sim. Quanto à escolha de produtos locais como uma preocupação, a minha opinião de consumidora é que este não é um aspeto considerado relevante pela generalidade.