As agricultoras mais otimistas anunciam que hoje em dia já não é como antigamente em que a agricultura era totalmente dominada pelos homens. Mas ainda há quem defenda que permanecem barreiras quanto à igualdade de género na agricultura. Isso mesmo prova um novo estudo, realizado pela Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDuPont, junto de 4.157 inquiridas, residentes em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, nos cinco continentes.
78% das mulheres agricultoras na Índia e 52% nos EUA, afirmam sentir uma discriminação de género generalizada, o que coloca obstáculos à sua capacidade de ajudar a alimentar o mundo, revela a pesquisa. Os números excedem significativamente os 50% para todos os 17 países, com o Brasil, Nigéria, Quénia, México e África do Sul no topo deste ranking.
Neste indicador, Portugal, que surge lado-a-lado com a Espanha, revela níveis de discriminação de género equiparados aos da Índia (78%). Esta pesquisa divulgou que mais de três quartos das mulheres agricultoras do nosso país acreditam não ter as mesmas oportunidades nem as mesmas possibilidades de tomada de decisão sobre questões fundamentais, como a utilização dos recursos, comparativamente aos homens na mesma atividade.
A maioria das mulheres participantes deste estudo (72%) acredita que levaria de uma a três décadas ou mais para atingir a igualdade total de género. Para lá chegar, as entrevistadas identificaram cinco ações-chave para viabilizar a igualdade: ter acesso a mais formação na área da tecnologia (80%); ter apoio, sobretudo legal, para ajudar as mulheres na agricultura que sofrem discriminação de género (76%); sensibilizar o público para o sucesso das mulheres na agricultura (75%) e para a existência da discriminação de género na atividade (74%) e ter mais formação académica (79%).
Curiosamente, no nosso país e segundo a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, quando se trata da conclusão do ensino superior na área da agricultura, os números são bem mais positivos: 60,2% para as mulheres e 39,8% para os homens. Ou seja, há mais mulheres a formarem-se na agricultura, mas depois muito poucas trabalham diretamente na atividade agrícola. De destacar que em Portugal, em 2016, eram 107,4 mil as mulheres a trabalhar no setor primário da Agricultura, Produção animal, Caça, Floresta e Pescas, o equivalente a uma taxa de feminização de 33,7%.
A investigação levada a cabo pela Corteva Agriscience indicou ainda que praticamente 40% das inquiridas afirma ter um menor rendimento que os homens e menor acesso ao financiamento. No topo da lista de preocupações está a estabilidade financeira e o bem-estar das suas famílias e alcançar o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.