A percepção sobre os desafios para a alimentação e agricultura mundiais, dentro e fora do sector.
Esta semana falámos com Ana Paula Carvalho, Subdiretora-Geral da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
A DGAV tem, na sua missão, a definição, execução e avaliação das políticas de segurança alimentar e a proteção vegetal e fitossanidade, sendo investida nas funções de Autoridade Sanitária Veterinária e Fitossanitária Nacional e de Autoridade responsável pela gestão do Sistema de Segurança Alimentar.
Em Portugal, a DGAV é a entidade responsável por promover e coordenar as atividades técnicas inerentes à implementação da proteção integrada das culturas, pelo que no site desta entidade é disponibilizada informação actualizada sobre a prática da proteção integrada.
Na sua perspetiva, qual a importância que a agricultura tem na alimentação mundial?
A agricultura é fundamental para assegurar a alimentação do Homem, mas desempenha também um importante papel na preservação da paisagem rural, do ambiente, incluindo da fauna selvagem, e na fixação das populações rurais, para além de constituir uma importante atividade económica. É uma das atividades mais nobres e desafiantes que o Homem desenvolve, não só por ser essencial à vida humana, mas também por depender de inúmeros fatores dificilmente controláveis, como o clima e as pragas e doenças emergentes, que podem devastar as culturas.
Considera que a população está ciente dos desafios da agricultura?
A população em geral desconhece a realidade da agricultura, as suas dificuldades e desafios, mas também os excelentes exemplos de inovação que têm permitido aumentos de produção, melhorias de qualidade dos produtos e redução do uso de fatores de produção, tornando a agricultura cada vez mais sustentável.
Na sua perspetiva, quais os maiores mitos existentes, por parte do consumidor, sobre a agricultura moderna?
O consumidor tem uma ideia frequentemente negativa da agricultura, associando a agricultura desenvolvida ao uso massivo de pesticidas, à intensificação da produção pecuária, à «artificialização» da produção vegetal. Isso não corresponde à realidade, porque tanto a sociedade como a comunidade científica são cada vez mais exigentes e os programas de pesquisa de resíduos têm critérios qualitativos apertadíssimos. Da mesma forma, os programas de sanidade e bem-estar animal são também muito controlados. Hoje, os chamados “casos” são em número cada vez mais reduzido e são altamente penalizados.
Quais são, na sua visão, os desafios ao setor agrícola para os próximos anos?
São desafios que têm que ver com a realidade que acabei de descrever. O setor agrícola terá que saber lidar com uma cada vez maior exigência dos consumidores em matéria de qualidade e de diversidade de alimentos, mas também com crescentes limitações à utilização de determinados recursos, como sejam a água, os fertilizantes e os produtos fitofarmacêuticos. A par deste desafio, o setor tem igualmente que continuar a ajustar-se ao desafio da globalização de mercados.
Que medidas considera que deveriam ser tomadas pelo setor agrícola para aproximar o consumidor da agricultura moderna?
Trazer o campo à cidade, explicando e demonstrando a agricultura. É essencial, por exemplo, alterar os manuais escolares. De forma geral, estes manuais transmitem às nossas crianças uma ideia errada da agricultura atual, relevando o uso de pesticidas e uma forte intensificação. É fundamental transmitir ao consumidor que o agricultor é o pilar do seu dia-a-dia, é da sua atividade que resulta o alimento que se come à refeição. É importante que se perceba que os agricultores trabalham de forma responsável, respeitando normas muito restritivas em termos de fertilização, de proteção das culturas e de bem-estar animal, ao invés de se passar a ideia contrária.