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27 de Abril, 2024
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A agricultura do futuro começa em 3, 2, 1…

Com os olhos postos no futuro, especialistas em agricultura expuseram as suas preocupações, visões e soluções nas “Lisbon Agri Conferences”, com o fim de converter um dos sectores com mais peso na economia portuguesa — 10% do emprego nacional e 9% do valor acrescentado bruto — num espelho de prosperidade. O agroalimentar é hoje mais eficiente e tecnológico, mas há importantes missões pela frente: garantir que toda a população tem acesso a alimentos de qualidade, mitigar as alterações climáticas ou assegurar um melhor aproveitamento dos recursos hídricos são alguns dos desafios que a agricultura enfrenta. Sem esquecer que a pandemia pôs todos à prova, com a disrupção da cadeia, o aumento da escassez de matérias-primas e a subida de preços.

O DESAFIO DA DEMOGRAFIA

9,7 mil milhões. É a dimensão que se estima que a população mundial atinja em 2050, o que significa que, daqui a menos de 30 anos, o planeta terá cerca de 2 mil milhões de pessoas a mais do que tinha em 2020, às quais a indústria agroalimentar terá de saber dar resposta. A agricultura vertical ou a carne cultivada em laboratório são algumas das soluções que estão a ser desenvolvidas e que começam a ser implementadas num mundo onde a população cresce de dia para dia. Não obstante, António Serrano, CEO da Jerónimo Martins Agroalimentar, refere que “na Europa ainda há barreiras” quanto a este tipo de produção alimentar, facto que pode servir de travão à evolução. Esta afirmação é corroborada por Paulo Portas, quando lembra que “somos, neste momento, o quarto continente em termos de investimento em inovação”. Aliar público e privado, juntando à equação as universidades e as empresas, é a estratégia apontada pelo atual vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Portugal para que haja uma mudança rápida de paradigma e para que não percamos o comboio da inovação.

Além do aumento da população, a Europa enfrenta um problema de envelhecimento, uma vez que em 2050 a idade média do continente rondará os 50 anos. Como se vai conseguir ter uma economia vibrante com características demográficas desta natureza? “Se não recorrermos à emigração, não haverá ativos suficientes” para trabalhar nos campos agrícolas e noutros sectores da economia, responde Paulo Portas.

O DESAFIO DA ÁGUA

Sem água não há agricultura produtiva. Mas estaremos nós a aproveitá-la da melhor maneira? Parece que não. Os dados mostram que, desde 2015, tem havido um incremento da eficiência do uso da água (9%), mas ainda há muito a fazer para garantir que não desperdiçamos este recurso.

Por ano, Portugal gasta “cerca de 40% da disponibilidade dos recursos hídricos”, assegura António Costa e Silva, professor do Instituto Superior Técnico (IST) e autor da Visão Estratégica para Portugal 2020-2030. “Se continuarmos a este ritmo, podemos ficar na região do ‘stresse hídrico’ nas próximas décadas, até 2040”, sublinha o especialista. Além do uso excessivo, é de recordar que cerca de 2/3 dos nossos aquíferos dependem dos ciclos de pluviosidade para serem recarregados — o que, com as alterações climáticas, pode representar uma dificuldade acrescida — e que 50% da nossa água vem de Espanha. “Eu não tenho dúvidas de que, quando a escassez de água for uma realidade, os rios vão ser usados como instrumento político”, defende António Costa e Silva.

Mais uma vez, a tecnologia pode ser essencial para otimizar o consumo através da inteligência artificial, por exemplo, com os investimentos em perímetros de rega que levem água às explorações agrícolas a serem muito importantes. Joaquim Pedro Torres, administrador da Valinveste, propõe mesmo uma “autoestrada” de água, do Douro ao Algarve, em troços, que permitiria um país mais produtivo, equilibrado e preparado para as alterações climáticas. Saber armazenar e transportar a água é a chave.

O DESAFIO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E DA SUSTENTABILIDADE

Por um lado, há hoje uma verdade à qual os stakeholders não podem fugir e que incide no facto de as alterações climáticas estarem a mudar a forma como se pensa toda a cadeia agroalimentar, desde a produção à distribuição. Emitir menos gases para a atmosfera — como o metano, que é um dos que mais contribui para o efeito de estufa —, fustigar menos os solos, desflorestar menos e usar menos água são requisitos a ter em conta. Por outro lado, os consumidores estão cada vez mais exigentes e conscientes: 70% da população quer produtos mais sustentáveis e saudáveis, o que aumenta a pressão sobre a estrutura agroalimentar.

Quando se fala em sustentabilidade, a responsabilidade não está apenas do lado de quem produz, transforma ou distribui. Veja-se que 1/3 dos produtos que produzimos perde-se em algum momento da cadeia e 17% deste valor correspondem a alimentos desperdiçados. Cabe também aos consumidores modificar os seus hábitos alimentares (introduzindo mais vegetais e menos produtos de origem animal na dieta) para se tornarem membros ativos do caminho para a sustentabilidade. “Se tivermos consumidores mais exigentes, conseguimos mudar práticas de produção menos sustentáveis”, lembra Joana Portugal Pereira, professora do IST. Garantir a sustentabilidade sem comprometer a produtividade é a missão dos agricultores portugueses, que só será atingida, segundo os especialistas, se o sector se unir e traçar estratégias, socorrendo-se da tecnologia já disponível.

Notícia In Expresso

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